A
primeira vez que li Neil Gaiman tinha sido com um livro de contos chamado “Coisas
Frágeis I” e talvez pelo meu feeling
na época, não tinha gostado e nem desgostado, fiquei na boa e acabei esquecendo
a existência de um dos autores mais famosos de fantasia.

O
livro começa com um homem voltando para a cidade que cresceu, e ao ir numa
antiga fazenda perto de sua casa, ele passa lembrar coisas da sua infância.
Coisas que tinha esquecido totalmente, mas que estando ali parecem tão claras.
Os tempos eram difíceis para sua família, o dinheiro estava curto, assim seus
pais começaram a receber hóspedes na casa, e toda a trama do livro se inicia
com o suicídio de um dos hóspedes dentro do carro de seu pai naquela mesma
fazenda no fim do caminho. Este suicídio liberou forças que não são deste
mundo, e que precisam ser detidas. As
três mulheres, vó, mãe e filha que moravam na fazenda mostram-se muito úteis e
com poderes inexplicáveis.
O
livro é de leitura fácil e você ‘come’ ele super rápido de tão instigante que a
história é, e por isso amo Neil Gaiman, ele realmente faz você entrar no mundo
que criou e a as histórias são maravilhosas, mas ai vem a relação de ódio que
ainda estou aprendendo a lidar, ele explica o mínimo possível. E isso é algo
meu, sempre estava acostumada a ler fantasias que tudo tinha um motivo.
O Oceano no Fim do Caminho é inteiro feito em
metáforas e analogias, chega um momento que você não sabe mesmo se tudo aquilo
é real ou apenas a imaginação do menino justamente porque tudo parece tão natural. Como é em primeira pessoa e o principal é um
garoto solitário (NENHUM amigo da escola apareceu em sua festa de 7 anos), que
convive com problemas familiares e sua única companhia são livros de ficção,
você começa a analisar que aquilo que está acontecendo, colocando na vida real
pode ser outra coisa e faria sentido do mesmo jeito, que pode ser a forma que uma criança sozinha criou pra lidar com
problemas tão grandes e tão adultos,
um suicídio, dinheiro, uma babá que praticamente o proíbe de t-u-d-o que ele
tenta fazer, um pai violento, traição, a solidão.
A
história é sobre infância, mais do que sobre monstros e magias, é sobre como o
mundo adulto parece tão inseguro e assustador quando somos crianças, como os
adultos em si tentam afogar a infantilidade com toda sua maturidade e “problemas
reais”.
Recomendo
demais! Para quem nunca leu Neil Gaiman ou assim como eu, não estava totalmente
convencida dele valer a pena. (Agora estou na missão de ler todos os livros
dele, então logo mais terá mais aqui!). Abaixo vou falar um pouco sobre o que
eu acho que era algumas coisas no livro, então se não leu ainda e não curte
spoiler, NÃO LEIA, mas se depois que ler o livro quiser vir aqui debater nos
comentários, fique à vontade <3
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ALERTA DE SPOILER --------------------------------------
Primeiro
queria falar daquela cena da banheira, eu prendi o fôlego junto com o menino,
acredito que seja um dos ápices, e você pensa, “será que tentou matar mesmo?”,
se for pela magia, ele estava sendo manipulado, mas se for real penso que pode ser duas coisas, ou o pai realmente era
violento e o fato de ter quase sido morto pelo próprio pai teria colaborado pro
garoto ser meio preso a um mundo fantasioso, ou é meio que uma forma do autor
querer dizer que o pai sufocava o menino, ele era solitário, como já disse, e
não tinha ninguém para recorrer, a única pessoa que talvez teria, também não o
ajudava e talvez até fosse rígido demais.
A babá, seria
ela um monstro mesmo? Uma moça bonita, que o proibia de tudo, que fazia as
coisas que a mãe dele não estava conseguindo porque tinha que trabalhar e ainda
transava com seu pai. Ela poderia ser uma escrota na vida real e ele a via como
um monstro que destruiria sua família... Me identifiquei muito com a parte que
ele se recusa todos os dias a comer a comida da babá porque estava envenenado.
Quando eu era pequena minha casa tinha uma doméstica e ela toda manhã fazia o
leite na mamadeira pra mim e eu me recusava a tomar, eu gostava dela, a adorava
demais, mas não tinha sido o leite que minha
mãe preparou, então não tomava. Ela tinha que mentir que minha mãe tinha
deixado ali antes de sair de casa e só assim eu tomava. Se eu, que gostava
dela, fazia isso, imagine uma criança que detestava
a babá?
E
para terminar, as Hempstock e O Oceano, o que mais me deixou em dúvida,
primeiro O oceano, pra mim era como um refúgio, ele sempre ia lá quando
precisava de segurança, e quando ele entra para se proteger o principal alega
que é um lugar de conhecimento. É como se fosse dentro de nós, imenso, escuro e
seguro, aonde vamos pra pensar sobre as coisas.
Li
muitas teorias sobre as Hempstock serem as Moiras, porque Neil Gaiman gostava
de usar elas em histórias, e por causa daquela cena que uma delas recorta um
acontecimento da vida dele. Talvez tenha um quê disso, mas acredito muito mais
que sejam as três fases da vida, é no colo da vó Hempstock que ele chora e come
comidas deliciosas e quentinhas, é da mãe que ele escuta conselhos
reconfortantes, é da Lettie Hempstock que ele se aventura e tem liberdade. E
aquele final... ele sempre se esquece que já foi lá, e a mãe diz que a Lettie
está na Austrália, mas na verdade está se recuperando no Oceano. E se na
verdade, na realidade que o menino tentava fugir, ela não estiver só morta
mesmo? Me fez lembrar daquele filme “Ponte para Terabítia”, que os dois principais
vivem num mundo da imaginação, ai ela morre e ele não sabe como lidar com isso.
(por coincidência ela se chamava Leslie, o que me fez lembrar mais ainda da
Lettie).
E
se a única amiga que ele tinha não morreu? Ou simplesmente não existiu? E o
personagem adulto sempre esquece porque a mente bloqueia. Bem, são só
suposições minhas!
Espero
que tenham gostado da matéria e do livro, fiquem livre pra debater nos
comentários!
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