Minhas impressões/Resenha: O oceano no fim do caminho

                A primeira vez que li Neil Gaiman tinha sido com um livro de contos chamado “Coisas Frágeis I” e talvez pelo meu feeling na época, não tinha gostado e nem desgostado, fiquei na boa e acabei esquecendo a existência de um dos autores mais famosos de fantasia.  
                Foi quase três anos depois que topei com “O Oceano no fim do caminho” na prateleira do meu namorado e pensei em dar uma nova oportunidade para o autor. E desde então começou minha relação de amor e ódio com Neil Gaiman.
                O livro começa com um homem voltando para a cidade que cresceu, e ao ir numa antiga fazenda perto de sua casa, ele passa lembrar coisas da sua infância. Coisas que tinha esquecido totalmente, mas que estando ali parecem tão claras. Os tempos eram difíceis para sua família, o dinheiro estava curto, assim seus pais começaram a receber hóspedes na casa, e toda a trama do livro se inicia com o suicídio de um dos hóspedes dentro do carro de seu pai naquela mesma fazenda no fim do caminho. Este suicídio liberou forças que não são deste mundo, e que precisam ser detidas.  As três mulheres, vó, mãe e filha que moravam na fazenda mostram-se muito úteis e com poderes inexplicáveis.
                O livro é de leitura fácil e você ‘come’ ele super rápido de tão instigante que a história é, e por isso amo Neil Gaiman, ele realmente faz você entrar no mundo que criou e a as histórias são maravilhosas, mas ai vem a relação de ódio que ainda estou aprendendo a lidar, ele explica o mínimo possível. E isso é algo meu, sempre estava acostumada a ler fantasias que tudo tinha um motivo.
 O Oceano no Fim do Caminho é inteiro feito em metáforas e analogias, chega um momento que você não sabe mesmo se tudo aquilo é real ou apenas a imaginação do menino justamente porque tudo parece tão natural.  Como é em primeira pessoa e o principal é um garoto solitário (NENHUM amigo da escola apareceu em sua festa de 7 anos), que convive com problemas familiares e sua única companhia são livros de ficção, você começa a analisar que aquilo que está acontecendo, colocando na vida real pode ser outra coisa e faria sentido do mesmo jeito, que pode ser a forma que uma criança sozinha criou pra lidar com problemas tão grandes e tão adultos, um suicídio, dinheiro, uma babá que praticamente o proíbe de t-u-d-o que ele tenta fazer, um pai violento, traição, a solidão.
                A história é sobre infância, mais do que sobre monstros e magias, é sobre como o mundo adulto parece tão inseguro e assustador quando somos crianças, como os adultos em si tentam afogar a infantilidade com toda sua maturidade e “problemas reais”.  
                Recomendo demais! Para quem nunca leu Neil Gaiman ou assim como eu, não estava totalmente convencida dele valer a pena. (Agora estou na missão de ler todos os livros dele, então logo mais terá mais aqui!). Abaixo vou falar um pouco sobre o que eu acho que era algumas coisas no livro, então se não leu ainda e não curte spoiler, NÃO LEIA, mas se depois que ler o livro quiser vir aqui debater nos comentários, fique à vontade <3


       ---------------------------------------- ALERTA DE SPOILER --------------------------------------
               
Primeiro queria falar daquela cena da banheira, eu prendi o fôlego junto com o menino, acredito que seja um dos ápices, e você pensa, “será que tentou matar mesmo?”, se for pela magia, ele estava sendo manipulado, mas se for real penso que pode ser duas coisas, ou o pai realmente era violento e o fato de ter quase sido morto pelo próprio pai teria colaborado pro garoto ser meio preso a um mundo fantasioso, ou é meio que uma forma do autor querer dizer que o pai sufocava o menino, ele era solitário, como já disse, e não tinha ninguém para recorrer, a única pessoa que talvez teria, também não o ajudava e talvez até fosse rígido demais.
A babá, seria ela um monstro mesmo? Uma moça bonita, que o proibia de tudo, que fazia as coisas que a mãe dele não estava conseguindo porque tinha que trabalhar e ainda transava com seu pai. Ela poderia ser uma escrota na vida real e ele a via como um monstro que destruiria sua família... Me identifiquei muito com a parte que ele se recusa todos os dias a comer a comida da babá porque estava envenenado. Quando eu era pequena minha casa tinha uma doméstica e ela toda manhã fazia o leite na mamadeira pra mim e eu me recusava a tomar, eu gostava dela, a adorava demais, mas não tinha sido o leite que minha mãe preparou, então não tomava. Ela tinha que mentir que minha mãe tinha deixado ali antes de sair de casa e só assim eu tomava. Se eu, que gostava dela, fazia isso, imagine uma criança que detestava a babá?
                E para terminar, as Hempstock e O Oceano, o que mais me deixou em dúvida, primeiro O oceano, pra mim era como um refúgio, ele sempre ia lá quando precisava de segurança, e quando ele entra para se proteger o principal alega que é um lugar de conhecimento. É como se fosse dentro de nós, imenso, escuro e seguro, aonde vamos pra pensar sobre as coisas.
                Li muitas teorias sobre as Hempstock serem as Moiras, porque Neil Gaiman gostava de usar elas em histórias, e por causa daquela cena que uma delas recorta um acontecimento da vida dele. Talvez tenha um quê disso, mas acredito muito mais que sejam as três fases da vida, é no colo da vó Hempstock que ele chora e come comidas deliciosas e quentinhas, é da mãe que ele escuta conselhos reconfortantes, é da Lettie Hempstock que ele se aventura e tem liberdade. E aquele final... ele sempre se esquece que já foi lá, e a mãe diz que a Lettie está na Austrália, mas na verdade está se recuperando no Oceano. E se na verdade, na realidade que o menino tentava fugir, ela não estiver só morta mesmo? Me fez lembrar daquele filme “Ponte para Terabítia”, que os dois principais vivem num mundo da imaginação, ai ela morre e ele não sabe como lidar com isso. (por coincidência ela se chamava Leslie, o que me fez lembrar mais ainda da Lettie).  
                E se a única amiga que ele tinha não morreu? Ou simplesmente não existiu? E o personagem adulto sempre esquece porque a mente bloqueia. Bem, são só suposições minhas!

                Espero que tenham gostado da matéria e do livro, fiquem livre pra debater nos comentários! 
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About Ingrid Boni

Ingrid Boni, 25 anos. Formada em Serviço Social. Ama bons livros, animes, filmes e séries e tem a mania desesperadora de escrever sobre essas coisas.
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